Recebo muitas perguntas de mães que estão começando a amamentar, me pedindo ajuda com esse comecinho da amamentação, que é um momento delicado.

Falei no meu primeiro texto do blog "Amamentar em tempos modernos" sobre a importância desse começo da amamentação.

Muitas mães me perguntam se esse começo foi difícil para mim, se eu tive fissuras no peito, se eu também sentia dor para amamentar e como fiz para superar isso.

Sim, eu também sofri com tudo isso. Também amamentei urrando de dor, com lágrimas escorrendo dos olhos, como você e muitas outras mães.

Não se sinta sozinha. Não é só com você. A maioria das mães que amamentam e amamentaram passaram por isso.

Sempre me perguntam como me preparei para esse início da amamentação, se tomei sol no mamilo ou se usei a bucha natural no mamilo.  Até fiz isso tudo, mas, olhando para trás, sinto que o que mais me ajudou foi me informar.

Quando eu estava grávida de 7 meses, fiz uma aula de amamentação que me ajudou muito. Essa aula é gratuita e oferecida pelo hospital onde o Lucca nasceu, e lá me ensinaram muitas coisas importantes e fundamentais para que eu superasse esse começo. 

Nessa aula, me informaram sobre:
 

- A importância da proximidade entre mãe e bebê após o nascimento. Segundos após o nascimento do Lucca, ele já foi colocado no meu peito “pele com pele” e ficou horas comigo. Também, durante toda a nossa estadia no hospital, ele ficou o tempo todo no quarto comigo.

 
- A importância do contato “pele com pele” entre mãe e bebê a maior parte do tempo. No hospital onde o Lucca nasceu, nos orientaram a não colocar roupa nele, deixávamos ele somente de fralda enrolado numa manta, para facilitar esse contato de “pele com pele” comigo o tempo todo.

- A importância do colostro nos primeiros dias, o quanto esse líquido precioso é poderoso e rico em anticorpos, que o bebê tanto precisa. 

- A quantidade que o bebê mama nos primeiros dias é muito pequena, pois seu estômago é pequeno. Por isso não é preciso se desesperar, achando que aquela pequena quantidade de colostro que nosso corpo produz não é suficiente para o nosso bebê. Aquela quantidade é exatamente o quanto o nosso bebê precisa. Na livre demanda, mamando aos pouquinhos, mas o tempo todo. 

- O tempo que leva para o leite descer. É natural que leve de 2 a 4 dias para o leite descer. Isso é absolutamente comum e ficar ansiosa ou nervosa com essa espera pelo leite não ajuda em nada. Nesses primeiros dias, o bebê receberá todos os nutrientes necessários através do colostro.
 
- A perda de peso dos bebês após o nascimento.  É comum que eles percam, em média, 10% do seu peso corporal, nas 2 primeiras semanas de vida, pois fora da barriga eles precisam fazer um grande esforço para se alimentar.
 
- As contrações uterinas/ cólicas que sentimos quando o bebê suga o peito nas primeiras semanas após o parto. Quando o bebê mama logo após o parto, o corpo da mãe libera ocitocina, que provoca contrações uterinas e ajuda a expulsar a placenta e a evitar hemorragias no pós-parto. E também, é dessa maneira, com o bebê sugando o peito, que o útero vai contraindo até voltar ao seu tamanho normal. Sugando o seio da mãe, o bebê também ajuda na descida do leite materno, pois, quando o bebê mama, ele provoca a liberação do hormônio prolactina na corrente sanguínea da mãe, que estimula a produção de leite.

- E quando perguntei nessa aula sobre as famosas fissuras, se amamentar iria doer, me disseram que se o bebê estiver com a pega correta, as fissuras não acontecem, o que de fato é verdade. Com a pega correta, o bebê não machuca o peito!


Por isso, é super importante, nesse começo, ter o acompanhamento de uma consultora de amamentação ou de uma enfermeira especializada em aleitamento materno. Elas podem auxiliar com a pega do bebê e assim evitar futuras fissuras.

Mas descobri somente após o nascimento do Lucca, algo que ninguém tinha me contado. Que quando os bebês nascem, a pega deles não é correta imediatamente.  Eles estão aprendendo a mamar e, por melhor que seja a pega deles nesse começo, como foi a do Lucca, ainda assim eles precisam praticar um pouco até chegarem à pega perfeita. E, até lá, é absolutamente comum que o nosso peito fique ferido. Por isso, esse é um problema tão comum. Mesmo o Lucca não tendo problemas com a pega, eu tive as tão dolorosas fissuras e rachaduras do começo da amamentação.

As consultoras de amamentação estavam sempre de olho na pega dele durante a nossa estadia no hospital e me deram algumas dicas para cicatrizar as feridas:

- Colocar o colostro ou o leite materno em cima da ferida.
 
- Tomar um pouco de sol no mamilo, 10-15 minutos.
 
- Nos intervalos das mamadas, usar essa concha ou esse anel de lencinho dentro do sutiã, diminuindo o atrito do sutiã nas feridas, deixando elas respirarem, sem ficarem abafadas.
 

 
 

- Também me aconselharam a usar a pomada Lansinoh,  que é a base de lanolina. Essa pomada foi a que mais me ajudou com as feridas. Eu tentei óleo de coco, tentei essa outra pomada da Mother Love, indicada por algumas amigas. Mas a Lansinoh foi a que cicatrizou as feridas mais rápido, no meu caso. Mas ela deixava o peito um pouco escorregadio, o que pode atrapalhar a pega do bebê nesse começo. Por isso, eu sempre retirava a pomada antes do Lucca mamar, para que não atrapalhasse a pega dele e evitasse novas fissuras.

Sim, o Lucca mamou com o peito sangrando, e nesse momento não foi fácil dar de mamar com a ferida aberta. Não vou mentir, amamentar foi doloroso, sim, nos primeiros dias. E não quero desencorajar ninguém dizendo a verdade, muito pelo contrário, acho que se eu mentir e dizer que foi tudo lindo, perfeito e fácil, não vou estar ajudando ninguém. Foi exaustivo e doloroso, no começo, mas com muita ajuda, paciência e força, a dor foi passando e amamentar se tornou algo magnífico, como deve ser.

E uma vez superada essa fase do começo da amamentação eu e o Lucca vivemos nossa lua de leite tão desejada por mim. Mas eu ainda não sabia, que em seguida eu teria que enfrentar um desafio ainda maior.  A crise dos 3 meses da amamentação, que eu nem sabia que existia e que para mim, foi o momento mais difícil da amamentação, onde eu pensei em desistir. E esse é um assunto que eu preciso falar com certeza, pois pouquíssimo se fala sobre ele. Mas fica para o meu próximo texto. 

Eu tenho certeza que para superar esse começo da amamentação, ter acesso a essas informações me tranquilizou, me fez confiar no meu corpo e acalmou bastante meu coração nos momentos de dúvidas. Saber como outras mães superaram essa fase também me ajudou bastante.
 
E é importante lembrar que essa fase do começo da amamentação é um momento delicado por conta da revolução hormonal do pós-parto e, por isso, a mulher precisa ser cuidada. Eu acredito que só consegui vencer essa fase e seguir em frente, muito por ter tido todo o apoio do meu marido e da minha mãe.

Pesquisas mostram que mulheres que têm o apoio do marido nesse momento, incentivando a mulher, cuidando dos afazeres da casa, possibilitando que ela possa ter calma para focar somente no bebê, conseguem amamentar por mais tempo. Ou seja, o pai também faz parte desse processo e tem um papel fundamental para que a amamentação aconteça.

Hoje, sou muito grata a todos que me ajudaram a vencer essa fase e chegar até aqui. E para as mães que estão grávidas e querem amamentar, ou para as mães que estão vivendo o começo da amamentação nesse momento, meu conselho é: peça ajuda, peça apoio, nós mães, não somos invencíveis. Para que possamos cuidar dos nossos filhos, precisamos ser cuidadas, com ajuda podemos superar as dificuldades dessa fase, de muitas outras e amamentar nossos filhos por muito tempo!

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