Somente após ter vivido na pele a experiência de amamentar, pude constatar que mesmo a amamentação sendo algo absolutamente natural, uma vez que somos mamíferos, nos dias de hoje em tempos modernos amamentar se tornou algo na maioria das vezes bastante desafiador. 

Preciso confessar que amamentar tem sido uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida, é preciso muita entrega, dedicação e paciência para seguir amamentando. Ser mãe como um todo, tem sido a missão mais difícil de todas que já tive na vida, mas também a mais importante, a mais grandiosa e a mais prazerosa! 

Hoje entendo perfeitamente as dores e as frustações de quem não conseguiu amamentar.

Minha mãe sofreu bastante com isso, comigo e com meu irmão. Os dois partos dela foram cesáreas, e não ficamos com ela no quarto do hospital nos nossos primeiros dias de vida, o que era e ainda é uma regra bastante comum em muitos hospitais.

Mesmo minha mãe querendo muito amanentar, com pouca orientação para um pós parto em prol da amamentação, em menos de 3 meses o leite dela secou. A mãe dela, minha avó, tentou tudo o que ela sabia para ajudar a minha mãe a ter mais leite. Deu todo o suporte e apoio que ela pôde dar, mas minha avó teve seus 7 filhos de parto normal, natural, em casa. Um cenário bem diferente do da minha mãe.

A história da minha mãe com a amamentação é uma história bem comum e que se repete bastante. A média de dias de amamentação no Brasil é de 54 dias, e a maior parte do desmame ocorre entre os primeiros 15 dias e o segundo ou terceiro mês de vida do bebê.  Eu acredito que a dificuldade em amamentar tem muito haver com a modernidade.

Se você pensar que antigamente as mulheres ganhavam seus bebês e em segundos já os colocavam no peito, e esse bebê ficava grudado em sua mãe, no peito, pele com pele com ela, por dias, meses, noite e dia. Sem pressa para voltar ao trabalho, sem pressa para emagrecer, sem pressa para ter que sair de casa, sem pressa de fazer aquele bebê dormir a noite inteira, sem mamadas marcadas no relógio. Assim nós mamíferos, fomos programados pela natureza. Mãe com bebê no peito o tempo todo. Essa é a receita simples da amamentação!

Nos primeiros meses de vida do bebê, ele precisa estar no peito praticamente o tempo todo,  mamando em livre demanda, quando quiser e o pelo tempo que quiser (como mulheres em algumas culturas ainda fazem). Mas com a vida moderna, essa receita simples não é tão simples assim! Porque para ter um bebê no peito o tempo todo é preciso muita renúncia e me parece que quanto mais essa mãe construiu antes da chegada desse bebê, maior e mais difícil é essa renúncia.

É por isso que acho que nos dias de hoje ouvimos muito a famosa frase “O leite secou”. Muitas vezes o bebê é separado da mãe logo após o parto, já nos primeiros dias de vida no hospital. Essa separação nesse momento crucial afeta bastante o início da amamentação. Sem bebê no peito sugando o tempo todo, o corpo da mãe entende que aquele bebê não precisa tanto do leite, e assim o leite vai diminuindo.

Muitas mães precisam voltar ao trabalho rapidamente, muitas mães querem emagrecer rapidamente. Bebê longe da mãe, dietas radicais para perder peso, exercícios físicos pesado - tudo isso não ajuda a produção de leite.

Eu não estou sugerindo um retrocesso, mas acho importante sabermos porque algo tão natural se tornou tão desafiador.  E entendermos que para superar esses desafios e amamentarmos nossos filhos nos dias de hoje, muitas vezes é preciso conhecimento e orientação!

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Por isso é importante, para as mães que querem amamentar, se prepararem para a amamentação antes mesmo de seus bebês nascerem. Para que elas tenham a oportunidade de buscar essa proximidade com o bebê após o parto o mais rápido possível, seja o parto normal ou cesárea.

Quando eu estava grávida de 7 meses do Lucca, fiz uma aula de amamentação que o hospital onde ele nasceu oferece. Nessa aula a consultora de amamentação nos preparou bastante para esse começo. Enfatizou muito a importância da “Pele com Pele" entre mãe e bebê nos primeiros momentos de vida do bebê e nos antecipou como seria todo o procedimento no hospital em prol da amamentação após o nascimento.

Tive o Lucca de parto normal, e segundos após o nascimento dele, ele foi colocado no meu peito - pele com pele comigo.  A enfermeira me ajudou com a pega dele, ali mesmo enquanto eu ainda estava no terceiro estágio do parto (no momento de expulsão da placenta). Ele começou a tentar sugar, ainda descobrindo e experimentando. Ele ficou no meu peito por umas 2 horas e somente após esse tempo juntos ele foi levado para o banho e para fazer alguns exames acompanhado do pai.

Esse foi o único momento da nossa estadia de 3 dias no hospital, em que não fiquei com meu filho (cerca de 30 minutos).
Depois disso o Lucca ficou o tempo todo no quarto comigo e com o pai, e a maior parte desse tempo ele estava no meu peito somente de fralda, pele com pele comigo. Achei super interessante essa orientação do hospital e das consultoras de não colocar roupas no bebê nesse início, deixá-lo somente de fralda para promover o contato de pele com pele entre mãe e bebê. Naquela aula que fiz quando estava grávida, já nos avisaram para trazer apenas uma roupa para o bebê, para a saída do hospital.

Eles me ofereceram uma faixa larga de elástico para eu vestir na altura do peito e eu colocava o Lucca nessa faixa. Ali nós dois ficávamos juntos enrolados num cobertor. Ele, pele com pele comigo, passava horas mamando e dormindo. Meu marido também usava bastante essa faixa quando o Lucca não estava no meu peito.

Já no primeiro dia fui orientada a usar a máquina de tirar leite após as mamadas, para estimular a produção de leite. Todos os quartos da maternidade possuem uma. A máquina aqui é considerada uma grande aliada na amamentação, tanto que os planos de saúde são obrigados por lei a cobrir os custos da máquina para todas as mães conveniadas. As mães que não possuem convênio, o governo permite a dedução do valor da máquina no imposto de renda. Em média o custo da máquina é de $150,00 dólares.

Na nossa estadia no hospital tive todos os dias, pelo menos uma vez ao dia, a visita de uma consultora que acompanhava as mamadas para ver se a pega do bebê estava correta e para tirar minhas dúvidas. 

Pelo menos de 3 em 3 horas uma enfermeira entrava no quarto para me acordar ou acordar o bebê para mamar, dia ou noite. A frequência do bebê mamando é de extrema importância, e também porque a glicemia do Lucca estava um pouco baixa, por isso ele precisava mamar o tempo todo. Se a glicemia não subisse eles teriam que dar fórmula para ele.

Confesso que em alguns momentos foi super exaustivo, pois depois de 18 horas de trabalho de parto, tudo o que eu queria era dormir pelo menos 4 horas seguidas. 

Mas valeu muito a pena. A glicemia dele subiu e saí do hospital com ele mamando no peito!

E mesmo com toda a orientação que recebi e com um começo bem sucedido, sofri no primeiro mês com as rachaduras no peito, o que é muito comum, pois o bebê ainda está aprendendo a mamar e a sua pega ainda não é perfeita.

Assim que as rachaduras melhoraram, eu achei que a batalha da amamentação já estava vencida. Eu estava vivendo a minha “lua de leite” tão sonhada com o meu filho. Ele mamava o tempo todo e estava ganhando peso.

Eu mal sabia que o maior desafio ainda estava por vir. Por volta dos 2 meses e meio o refluxo veio misturado com a crise dos 3 meses da amamentação. Lucca mamava 2 minutos e chorava muito e se recusava a voltar para o peito. Era uma batalha fazer ele mamar, e como ele não estava conseguindo mamar muito, o leite que sobrava no meu peito começou a empedrar. Então para evitar uma mastite e não deixar minha produção de leite baixar, tive que tirar leite após todas as mamadas.

Esse foi o momento mais difícil pra mim. A dúvida de que meu leite não estava sendo suficiente para ele, não saía da minha cabeça. Eu nunca sabia se ele tinha mamado o suficiente ou não naqueles 2, 3 minutos de mamada que vinham seguidos do choro, e eu não sabia se ele chorava de dor ou de fome.

E foi nesse momento que eu voltei para o mesmo hospital onde o Lucca nasceu, para frequentar o círculo de amamentação que eles oferecem uma vez por semana. Um encontro entre mães e consultoras de amamentação. As mães amamentam seus bebês, enquanto as consultoras observam e ajudam as mães.

Frequentar esse círculo de amamentação me ajudou muito a superar as dificuldades. Não só pelo suporte e orientações que recebi das consultoras, mas também porque vi que não estou sozinha, que é difícil para todas nós. Tive a chance de ver de perto mães com problemas muito maiores que o meu e que continuaram tentando, com muita força de vontade, paciência, entrega e dedicação.

Eu não tenho a menor dúvida de que sem todo o conhecimento e suporte que recebi do hospital, das consultoras, do meu marido, dos meus pais, da doula e da pediatra do Lucca, eu provavelmente não teria conseguido amamentar meu filho exclusivamente nos primeiros 6 meses de vida dele e seguir amamentando até hoje.

As vezes me perguntam, mas por que tudo isso? Por que todo esse esforço?

Por inúmeros benefícios que a ciência já provou, como por um exemplo lindo:

Toda vez que meu filho é exposto à um vírus e ele mama no peito, a saliva dele em contato com o meu peito, diz para o meu corpo produzir anticorpos específicos contra aquele vírus.  Meu corpo mesmo não tendo sido exposto a este vírus, encontra uma maneira de produzir os anticorpos necessários para o meu filho.

Por amor. Por querer o melhor para o meu filho. Porque leite materno é vacina natural.

É a alta tecnologia da natureza! 

É amor líquido! 

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